Domingo é dia de Crônica

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Sempre aos domingos sou remetido às bancas de jornais e as crônicas de Rubem Alves. Leitor e colecionador das impressões de Rubem, adorava.

O Caderno C do Correio Popular aos domingos, não falhe a memória, trazia as crônicas do escritor. Eram saborosas e profundas, escritas de forma simples para qualquer um ter liberdade de ler.

A associação é automática, aos domingos me lembro de bancas de jornais e das crônicas de Rubem. Às vezes fazia um tour por Campinas para conhecer as bancas. Eram muitas, eu tinha um mapa memorizado, eram bancas-livrarias, comprei muitos clássicos na banca do Alemão, no largo do Rosário.

Essas bancas serviam como uma espécie de Ágora. Muita gente se reunia em frente, muitos idosos que guardavam o hábito da boa conversa. Debatia-se política, futebol, próstatas, madamas, calvície do prefeito, e tantas outras amenidades.

Às vezes, no domingo acordava perto do meio dia. Os sábados eram agitados. Enfim, levantava preocupado porque tinha medo de não encontrar mais o meu exemplar, a minha crônica, o meu futuro e habitual recorte de jornal. Por isso dava umas boas pernadas, motivo do tour por Campinas. Conheci quase todas as bancas.

A bancas de Jornais não deviam desaparecer, deviam ser tornar patrimônio da cidade, são tão importantes quanto uma biblioteca, como as livrarias de rua, como os sebos. Os Sebos são comércios essenciais e de resistência. Mas as bancas, são patrimônios, hoje são poucas, muitas estão na memória, como as crônicas de Rubem recortadas no arquivo morto.

De jornal nas mãos, lia as crônicas, não só as de Rubem, as do Eustáquio eram boas. Emprestava as páginas de esportes ao meu falecido pai, corintiano. Lido o jornal, sentava-me sobre minha cadeira e a meia luz da escrivaninha já no começo da noite recortava a crônica. Guardava com todo zelo num arquivo morto, esse arquivo não deveria ser chamado de morto, mas de vivo.

Sim, despejava naquela caixa de papelão, o pensamento e as frases que fazem sentido e que dispõe de vitalidade, até hoje. Aquele pedaço de papel continha as lembranças do domingo, barulhento, farto, geralmente na casa de algum familiar.

Os domingos são sempre de lembranças, boas ruins e indiferentes. Os domingos são dias de crônicas. O domingo é uma crônica. Tenham todos os domingos, um bom domingo.

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