A Economia da Cultura

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A cultura não é estática, ela se movimenta e é parte de um processo que sofre mudanças ao longo das décadas, dos séculos. Logo, todo o campo do conhecimento humano, seja ele informal, formal, tangível e intangível sofrerá influências que são parte do fenômeno natural do tempo.

Para o bom entendimento do que é Economia da Cultura é necessário que se entenda antes, o que é Economia, e do que ela se ocupa. Perpassado isso, é possível obter maior clareza do papel e objetivos da Economia da Cultura.

Ao contrário do que pensa o senso comum, a economia não compõe um conjunto de conhecimento pertencentes à ciência exata. Suas técnicas e metodologias fazem parte do arcabouço de conhecimento do campo social.  Lembra o economista Valiati que, a economia, em um sentido amplo, estuda a forma pela qual os indivíduos tomam suas decisões e a sociedade se organiza em relação ao produto econômico gerado a partir das opções assumidas”. E mais ainda, “começamos a tratar do elemento fundamental da ciência econômica e que tem forte chances de ser o elemento-chave para entende-la, que é o homem, produto social de suas ações

No artigo Economia da Cultura e Desenvolvimento. Estratégias Nacionais e Panorama Global, a economista e estudiosa do assunto Ana Carla Fonseca Reis contribui para o entendimento dizendo que: “a economia da cultura oferece todo o aprendizado e os instrumentos da lógica e das relações econômicas – da visão de fluxos e trocas; das relações entre criação, produção, distribuição e demanda; das diferenças entre valor e preços; do reconhecimento do capital humano; dos mecanismos mais variados de incentivos, subsídios, fomento, intervenção e regulação, e de muito mais – em favor da política pública não só da cultura, como do desenvolvimento”.

Se atermos aos conceitos e as tentativas, em processo, de definir a ciência econômica, emprestemos por ora, o entendimento à mão de Lord Maynard Keynes que sugeriu: “a teoria econômica não fornece um elenco de conclusões estabelecidas e imediatamente aplicáveis. Trata-se de um método, de um instrumento do espirito, de uma técnica do pensamento que ajuda aquele que a possui a tirar conclusões corretas”. O objeto de estudo da economia se encontra no centro da vida social, tem a ver com os desejos, necessidade e limitações do indivíduo.

A primeira grande referência prática e acadêmica da aplicação dos instrumentos e técnicas das ciências econômicas à cultura se deu em 1965. Os economistas Willian Baumel e Willian Bowen desenvolveram um estudo a pedido da Fundação Ford sobre os custos do financiamento dados ao teatro, balé e orquestras. A fundação queria entender porque os altos custos das produções musicais e cênicas cresciam em comparação ao resto da economia. Esse crescimento estava levando ao fechamento das casas de espetáculos. A explicação contida no estudo de Baumel e Bowen era de que essas produções utilizavam mão-de-obra intensiva e não se beneficiavam dos avanços tecnológicos disponíveis, que aumentavam a produtividade de outros setores.

Esse estudo deu início ao que se convencionou chamar a partir de 1965 de Economia da Cultura. Em 1975 uma outra publicação, o Journal of Cultural Economics fortaleceu esse campo de estudo e em 1992 a American Economic Association reconheceu a Economia da Cultura como disciplina, lembra a economista Ana Carla Fonseca Reis.

No Brasil, essa tecnologia surge com força no início dos anos 2000. O BNDES cria seu departamento de Economia da Cultura para se dedicar aos estudos decorrentes do mercado cultural brasileiro, sua produção e seus serviços, a fim de compreender como distribuir melhor os insumos para o mercado internacional e internacional.

O desafio da Economia da Cultura no Brasil é permanente, e novo. O potencial do país nessa seara é imenso. Serão necessárias políticas públicas de fortalecimento e de desenvolvimento para que se permita fluir todo talento criativo represado no território nacional e dessa forma potencializar um dos setores cuja matéria prima no país é abundante.