Inicialmente a ideia seria escrever uma homenagem em respeito e gratidão à Mãe de Santo “Doné Eleonora”. Por ter convivido em sua companhia, por me possibilitar caminhar por terreno antes nunca caminhado, ao menos por um significativo espaço de tempo.
Ao iniciar o processo da escrita em homenagem a Doné percebi uma coisa. Percebi que uma só crônica não daria conta das histórias e das memórias registradas com a mãe de santo. São muitas, das pedagógicas às triviais, das engraçadas às dramáticas. Não seria possível demonstrar essa gratidão escrevendo somente uma crônica. A vida de Doné merece contos, merece um livro, quem sabe.
A intensidade da sua vida, da sua luta não é equivalente a uma crônica por mais bem intencionada e bem escrita, por quem quer seja. Não seria possível resumir sua trajetória no terreiro, na rua, na cultura e na política somente com uma crônica.
De modo que a partir de agora, inicio minha obrigação, à revelia dos oráculos e da feitura no candomblé. Descobri e que foi me dado, primeiro com os avisos de Doné e Dona Padilha, e que mais tarde me foi ratificado como uma missão espiritual, num tratamento de apometria no kardecismo. Daquela vivência temporária veio a mensagem. Nada que Doné e Padillha já não tinham dito muito antes, repito.
Preto véio desceu e disse que o meu lugar não era ali, é num Ilê. Preto Véio desenhou um tridente, uma espécie de carta de indicação que levei até Mãe Eleonora. Fiz o ebó, fiz o bori, e agora com o encantamento de Doné é necessária uma imersão na espiritualidade dos batuques e deleitar-se mais uma vez a luminosidade dos caminhos, e aproveitá-la.
“Você tem talento, não desperdice” disse Doné há muito tempo. Os Caminhos estão abertos, faça a sua obrigação até que os dedos se cansem, até que as pernadas sejam possíveis. Asé, Mojuba Doné, estamos juntos.