O legado de Mestre Pastinha

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Seguidores de Mestre Pastinha relembram a força do seu legado. O soteropolitano, que dedicou sua vida à disseminar os fundamentos da Capoeira Angola, faria 132 anos hoje (5). Fundador do Centro Esportivo Capoeira Angola, na capital baiana, Pastinha viveu os tempos da proibição da prática e lutou pela valorização de uma arte elementar para a identidade afrobrasileira.

Texto: Victor Lacerda / Edição: Lenne Ferreira / Imagem: Reprodução/Raridades de Capoeira

Onde quer que aconteça uma roda de Capoeira Angola, Vicente Ferreira Pastinha, ou Mestre Pastinha será reverenciado de alguma forma. O soteropolitano que, hoje, completaria 132 anos, deixou como legado a disseminação dos princípios do movimento cultural trazido de África, tornando-se símbolo da identidade negra nordestina e brasileira. No Largo do Cruzeiro de São Francisco, onde começou a lecionar, fundou a primeira escola de Capoeira Angola do país, importante instrumento para a partilha da prática com foco na não violência e na perpetuação dos conceitos que formou muitos mestres que até hoje colhem os frutos das sementes plantadas por Mestre Pastinha.

“Mestre Pastinha aparece como um ancestral dos capoeiristas, que deixa muitos legados e ensinamentos e que, infelizmente, no mundo da capoeira nós não temos muitas pessoas com a condição de absorver esse conhecimento. De qualquer forma, aqueles que viram o Mestre Pastinha como referência se aproveitaram disso e fizeram, da Capoeira Angola, a representação simbólica de parte da cultura brasileira. A prova maior do significado do Mestre Pastinha é termos a Capoeira Angola, hoje, em vários países do mundo, o que nos traz felicidade por sabermos que ela não foi extinguida”. O comentário é de Mestre Moraes, que foi aluno de Pastinha. Fundador do GCAP – Grupo de Capoeira Angola Pelourinho, doutorando em Cultura e Sociedade pela mesma Universidade Federal da Bahia (UFBA) e um dos principais mestres de Salvador, Moraes reconhece a importância ancestral de Pastinha para a cultura nordestina e brasileira.

De acordo com sua biografia, Benedito foi o nome de quem despertou o seu interesse de Pastinha pela arte de jogar capoeira. Em primeiro momento, foi seu rival, mas logo passou a ser o professor de Pastinha. Ainda aos 10 anos, diariamente frequentava a casa do colega, que, em entrevistas, afirmava ser ‘um preto africano’ quem lhe ensinou toda a base. Transformar o conflito em aprendizado, fez com que, por anos, o Mestre sempre tivesse respeito entre os praticantes, passando anos de sua vida pregando honradez, dignidade e decência aos seus praticantes.

Para Pastinha, ser Mestre era sinônimo de ser ouvido, de passar para frente o que havia aprendido e o que vivenciava nas rodas. Até por sua passagem pela Marinha do Brasil, a qual foi vinculado por oito anos, conseguiu dar um jeito de ensinar os colegas de trabalho. Em paralelo, aprender mais sobre cultura não ficou de fora do seu cotidiano, que também tinha espaço para as aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde conseguiu acessar o universo musical por uma outra perspectiva, aprendendo a tocar violão.

O ativismo político pela valorização da capoeira também tornou-se marca registrada da trajetória de Pastinha. Ele enfrentou o tempo em que a atividade ainda era tida como proibida pelo Código Penal brasileiro, uma das frentes do racismo contra movimentos culturais com origens em África. Dois a seis meses era o tempo da pena para quem fosse flagrado jogando. No caso de Mestre Pastinha, a pena poderia dobrar, pelo simples fato de ele ser Mestre e passar adiante os ensinamentos. A forte repressão fez com que ele ficasse  de 1913 e 1934 sem dar aulas.

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